sexta-feira, 22 de abril de 2005

Os Dominadores, John Ford


Os Dominadores, de John Ford
John Wayne é um capitão a beira da reforma neste clássico onde ainda reina a lei da bala
Apesar da paisagem imensa e pacífica, em que os vales com pouca florestação contrastam com um céu limpo e luminoso, o clima é instável. A Sétima Cavalaria sofre um novo desaire na batalha de Little Big Horn, com mais de duas centenas de vítimas. Na introduçao de "Os Dominadores/She Wore a Yellow Ribbon", lê-se que os índios "Sioux e Cheyenne estão em pé de guerra". Cabe agora ao capitão Nathan Brittles (John Wayne) inverter o cenário pouco amistoso, mesmo que se encontre apenas a seis dias da reforma.
"Ainda não sei o que vou fazer, mas não me imagino numa cadeira de baloiço", confessa o protagonista. De lenço ao pescoço e uniforme azul escuro, Brittles reflecte sobre o seu derradeiro desafio, enquanto fuma um cachimbo. Acaba por liderar um regimento e conduzi-lo para norte, mas a ordem de escoltar também a mulher e a filha de um influente militar, o major Allshard (George O'Brien), pode fragilizar ainda mais o sucesso da jornada.
O título original de "Os Dominadores" (1949) alude à fita amarela que as namoradas dos soldados usavam, enquanto estes estavam em serviço. O pormenor vai ganhando importância, porque esta é uma história em que duas mulheres entram e participam num "território de homens" - a jovem Olivia (Joanne Dru) é a responsável por um triângulo amoroso entre dois influentes oficiais que pode dividir a patrulha. E só a personagem interpretada com o talento irrepreensível de John Wayne tem autoridade para lutar pela coesão do grupo.
Neste espaço onde os instintos não toleram a falha, os dilemas de consciência podem ser tão perigosos quanto a ameaça índia. Nathan Brittles está preso a solidão - assustado com a reforma, depois de uma vida passada no campo de batalha - e, do mesmo modo que usa uma espingarda sem pensar duas vezes, nao dispensa o hábito de confessar-se junto a sepultura da mulher.
"Os Dominadores" (1949) é o único filme a cores da trilogia dedicada a Cavalaria norte-americana, que John Ford imortalizou com mestria (os outros dois capítulos sao "Forte Apache" e "Rio Grande"). A fotografia de Winton C. Hoch acabou mesmo por receber um Óscar.
No "western", género que tem vindo a perder peso nas últimas décadas, Ford criou poderosas metáforas em que o confronto físico serve de reflexao para o papel do homem na História. John Wayne é o responsável pela personificação deste desejo e, graças a imagem do herói duro de bom coração, tornou-se num mito. Como Nathan Brittles, ficou célebre uma expressão repetida várias vezes, símbolo do seu carácter irredutível: "Não peças desculpa. Isso é um sinal de fraqueza."

Minha Classificação: 8/10

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